Ninguém pode sonhar com o que desconhece
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“As raparigas espanholas querem ser #ASTRONAUTAS. Não é um sonho, é a realidade”, publicava Sara García Alonso após a divulgação dos resultados do Inquérito Anual da Adecco, em que se perguntava a 1100 rapazes e raparigas quais eram os seus sonhos a nível profissional.
Sara, bióloga molecular do Centro Nacional de Investigaciones Oncológicas (CNIO) e a primeira candidata espanhola a astronauta da Agência Espacial Europeia, conseguiu fazer com que viajar para o espaço soe a algo possível de alcançar, que ser astronauta entre no imaginário das raparigas, porque, quando uma mulher tem visibilidade, quando traça um caminho, muitas outras poderão imaginar-se no lugar dela.
É este o motivo pelo qual, hoje, por ocasião do Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, gostaríamos de apresentar Almudena R. Ramiro, Biola M. Javierre e Luísa V. Lopes, três investigadoras da rede CaixaResearch que são um exemplo do talento que esta comunidade reúne, três mulheres que, com o seu trabalho, estão a mudar o futuro da saúde.
Hoje, vamos focar-nos nelas. Porque fazem falta mais referências em que mulheres e raparigas se possam reconhecer. Porque ninguém pode sonhar com o que desconhece. E porque só assim talvez seja possível ler amanhã:
“As raparigas querem ser #INVESTIGADORAS. Não é um sonho, é a realidade”.
Sobre Almudena
“Não tinha ninguém na minha família que se dedicasse à investigação, mas, quando comecei a minha carreira, tive a sorte de conhecer a Dra. Marisa Toribio, que rapidamente se tornou na minha primeira e mais importante referência”, explica Almudena com carinho. “Comecei a ir ao laboratório dela à tarde, depois das aulas, e acabei por fazer a minha tese com ela, no Centro de Biología Molecular (CBMSO) de Madrid.” Atualmente, Almudena está a investigar novos alvos imunitários para o tratamento de doenças cardiovasculares no Centro Nacional de Investigaciones Cardiovasculares Carlos III – CNIC.
Para Almudena, mulheres como Rosalind Franklin e Marie Curie são figuras históricas fundamentais, mas, por vezes, “modelos que parecem longínquos, inalcançáveis, modelos com os quais as meninas e jovens talvez não se identifiquem particularmente”.
Ter cientistas de referência próximas de nós, assinala, “do nosso país, que vivam na mesma época, ajuda-nos a perceber que as decisões, os contextos ou os desafios que essas mulheres enfrentam podem ser muito semelhantes aos nossos. Faz-nos pensar que é possível, que também podemos seguir o mesmo percurso”.
Ao falar destes modelos próximos, o seu entusiasmo foi evidente. “Temos grandes cientistas em Espanha, como a Ángela Nieto, a Isabel Fariñas, a Pura Muñoz, a Carola Vinuesa, a María Ángeles Moro, a Paola Bovolenta…”, diz-nos, destacando o talento e o exemplo tangível que estas mulheres são.
Sobre Luísa
Encontrámo-nos no Gulbenkian Institute for Molecular Medicine (GIMM) com Luísa Lopes, que está a desenvolver uma técnica inovadora para o tratamento dos sintomas motores do Parkinson. Para Luísa, a mãe e as duas irmãs são uma fonte de inspiração diária, embora não sejam cientistas. “Independentes, inteligentes, corajosas”, diz com admiração.
Seguindo a nossa cadeia de referências, Luísa falou-nos de outras mulheres que não só se destacam pelo seu talento como pelo tempo que dedicam a apoiar e orientar as novas gerações. “Há cientistas incríveis que foram um exemplo para mim e que ajudam outras cientistas a encontrar o seu caminho: a Ana João Rodrigues, a Luísa Pinto, a Paula Pousinha, a Nora Abrous, a Carol Barnes”, diz-nos.
Sobre Biola
Biola hesita. Não consegue escolher. “São tantas!”, diz-nos. “Há muitas e são todas inspiradoras”. Para ela, a riqueza do talento feminino na ciência é infinita.
Este talento está a deixar marcas no Instituto de Investigación contra la Leucemia Josep Carreras, onde Biola está a investigar novos biomarcadores para prever o risco de recidiva da leucemia linfoblástica aguda, um trabalho crucial para se avançar no desenvolvimento de tratamentos mais precisos e eficazes.
“Sem diversidade sob todas as suas formas – género, cultura, formação –, a ciência não pode alcançar o seu máximo potencial”, afirma com convicção.
Antes de nos despedirmos, pedimos-lhe um conselho para as meninas e adolescentes, para que sonhem mais alto: “Não se deixem intimidar pela ideia de que a ciência é difícil, inalcançável ou incompatível com a vossa vida pessoal. Tudo o que vale a pena nesta vida tem os seus desafios e riscos, mas, com curiosidade, perseverança, esforço e paixão, esses desafios podem ser superados. A ciência está ao alcance de qualquer pessoa que tenha vontade de aprender e descobrir”.