Sexta-feira 25

News from the lab: o sistema imunitário e a resistência da pele. Qual é a relação entre ambos?

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A pele de um ser humano adulto ocupa cerca de 1,5 metros quadrados e pesa aproximadamente 4 quilos num indivíduo de estatura média. Não só é o órgão mais extenso do nosso corpo, mas também é a nossa primeira grande barreira de proteção, defendendo o organismo de bactérias, substâncias químicas nocivas ou temperaturas extremas. Mas de que dependem a sua integridade e resistência? Um novo estudo do Centro Nacional de Investigaciones Cardiovasculares (CNIC) revelou que o sistema imunitário poderia desempenhar um papel fundamental nesta questão

Nesta nova edição de News from the lab, o investigador do CaixaResearch Andrés Hidalgo e o bolseiro da Fundação ”la Caixa” Tommaso Vicanolo explicam-nos a sua nova descoberta, publicada na revista Nature. Descobriram que um tipo especial de células imunitárias (chamadas neutrófilos) são capazes de modificar a resistência e a permeabilidade da pele, o que demonstra que o sistema imunológico não só combate infeções, como também reforça fisicamente a nossa grande barreira contra as agressões externas. 

FOTOGRAFIA DOS DOIS INVESTIGADORES

Os neutrófilos são células imunitárias do sangue conhecidas pela sua função de defesa contra infeções, mas o trabalho de Hidalgo e Vicanolo revelou um papel inesperado dos neutrófilos: são capazes de penetrar na pele para gerar colagénio e outras proteínas que ajudam a fortalecer a barreira cutânea. Estas células reforçam a pele em condições normais, mas também reagem de forma ativa face às lesões, formando estruturas de proteção à volta das feridas para impedir, assim, a entrada de bactérias ou toxinas. 

«Além disso, observamos que estas funções dos neutrófilos são influenciadas pelos ritmos circadianos, ou seja, atuam de forma diferente consoante seja de dia ou de noite», explica Tommaso. «Na verdade, os neutrófilos entram na pele durante a noite e tornam este tecido mais rígido e menos flexível. Este facto instiga-nos a continuar a investigar a forma como os ritmos internos do corpo afetam a regeneração e a reparação dos tecidos.» 

O estudo também revelou que esta função estrutural dos neutrófilos é regulada por um conjunto de sinais a que chamamos de via do TGF-β. Ao desativar este mecanismo, os investigadores observaram que a pele se tornava mais frágil e permeável. «Tal sugere que a interação entre o sistema imunológico e a estrutura da nossa pele é mais complexa do que imaginávamos», acrescenta Andrés, que trabalha atualmente na Yale University School of Medicine, nos Estados Unidos. 

Embora a descoberta tenha sido feita em modelos animais, os investigadores garantem ter encontrado provas de que o mesmo ocorre nas pessoas, onde os neutrófilos são muito abundantes. 

Esta descoberta abre novas vias para entender o sistema imunológico e poderá também ser fonte de inspiração para tratamentos para doenças da pele e distúrbios do sistema imunitário. «É provável que estas descobertas tenham implicações em terapias destinadas a reforçar a barreira cutânea em pessoas com doenças inflamatórias, diabetes ou envelhecimento, entre muitas outras condições», conclui Andrés.

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